Obs: Imagem extraída do site: amoremversoeprosa.com
“A NORMOSE AMBIENTAL”
Gostaria de pedir licença para abordar um aspecto da normose sobre o qual é fundamental que nos debrucemos, por denunciar a nossa falta de amor e cuidado para com o nosso planeta... Falar um pouco desse “sono” que nos tem conduzido a uma total desconexão com a nossa própria condição humana, assim como a um profundo distanciamento da natureza como um todo; que traduz a ausência de uma relação sistêmica com a totalidade que a Mãe Natureza, em toda a sua sabedoria, vem tecendo há bilhões de anos.
A normose tem envolvido em véus compromissos ancestrais com a harmonia e com o equilíbrio da vida, fazendo de nós, a humanidade, “agentes de um processo destrutivo desagregador” – processo cuja face dramática é preciso denunciar e encarar com indignação, para que possamos mudar o curso dessa série de ações violentas e absurdas que tem caracterizado a dita civilização moderna. Afinal, todos, sem exceção, temos a mesma origem, somos filhos da mesma Terra Mãe, que os gregos chamavam “Gaia”, organismo vivo.
Na verdade, essa desconexão normótica tem norteado as atitudes de uma grande maioria dos seres humanos para com o planeta num total desrespeito pela “teia da vida”, tratando toda a rica biodiversidade, as florestas, os oceanos, as montanhas, os campos, os animais, toda a existência na Terra, enfim, como se fosse nada mais que um mero cenário para a manifestação de ações humanas.
Anestesiamos e banalizamos o que deveria ser o deslumbramento, por não sabermos o resultado de um processo extraordinário de inter-retro-conexões, movidas pela ânsia da vida por si mesma, no qual a aventura humana se efetivou quando 99% de todos os ecossistemas estavam organizados e em seu relativo e delicado equilíbrio...
A normose nos fez esquecer que o surgimento da vida humana expressa a subjetividade subjacente a toda a rica evolução da matéria e que esse fato, por si só, já estabelece laços e compromissos com toda expressão da vida.
É fundamental, pois, que passemos a alimentar uma postura com uma consciência do global e do local. Somos convidados a edificar uma nova era de civilizações. Que ética, que moral importa viver nestes próximos tempos ?
A atitude normótica remete a maioria a uma “atitude de sono e de inércia”. Para aqueles mais despertos, há uma dolorosa sensação de impotência diante do alarme ecológico. Mesmo esses últimos acabam por transferir para “além do meu quintal” a responsabilidade que é de cada um.
A atitude de cuidar da casa, da morada, do “ethos”, é de cada ser que respira, se movimenta, se alimenta, gera resíduo. A teia da vida manifestada, de uma anêmona do mar a um angico, de uma vaca no pasto a uma andorinha, faz sem dúvida a sua parte, enquanto nós, humanos, ditos “civilizados e modernos”, terceirizamos essa co-responsabilidade.
A normose nos aprisiona em um “sono” do qual é preciso despertar, para começarmos a perceber e a reagir aos sinais de esgotamento dos recursos naturais que denunciam que tudo depende da salvaguarda da Terra, para a manutenção das condições de vida e de reprodução para a humanidade. Temos notícias históricas de colapsos e cataclismos que baniram do planeta determinadas espécimes.
Assim sendo, o projeto de harmonizar a humanidade com o planeta nos parece ser uma pré-condição fundamental para que se possa viabilizar qualquer outro projeto, pois estamos falando da sobrevivência a Terra e dos seus filhos e filhas. Essa consciência precisa ser assimilada e vivenciada, urgentemente.
Autora: Regina Fittipaldi
Obs: Trechos retirados da obra: “Normose: patologia da normalidade”, autores: Pierre Weil, Jean-Yves Lelo’up, Roberto Crema, Campinas, SP: Verus Editora, 2003, páginas: 116, 117e 118.
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