Educação Ambiental na EEEFM "Rio Caeté" BRAGANÇA - PA

" EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA RIO CAETÉ "
( BRAGANÇA - PARÁ - BRASIL )

24 abril 2010

Ab’Saber alerta para risco de entregar Amazônia a grupos internacionais

Clipping | 24/05/2005 | Autor: Graziela Santanna | Fonte: Agência Brasil


Brasília - O projeto de Lei de Gestão de Florestas Públicas, de autoria do governo, é criticado pelo geógrafo Aziz Ab’Saber neste terceiro trecho da entrevista concedida à Agência Brasil. Para ele, se aprovado como está, o texto permitirá a entrega de parte das florestas amazônicas a grupos internacionais, que não entendem de seu uso sustentado.
ABr: O que o senhor acha do projeto de gestão de florestas do governo?
Ab’Saber: Esse projeto é o maior escândalo em relação à inteligência brasileira de todos os tempos. Vai ser um crime histórico. Ele partiu do Ministério do Meio Ambiente, forçado por gente que era de organizações não-governamentais, as chamadas ONGs. Todas as ONGs estão dentro do ministério, com algumas das pessoas mais cretinas desse país. Então é evidente que o ministério não vai ter condições de fazer nada favorável à defesa da Amazônia e das florestas. É preciso saber que as pessoas, que estão ao lado de dona Marina Silva (ministra do Meio Ambiente), foram até a Suíça oferecer o gerenciamento de algumas Flonas, as Florestas Nacionais, para estrangeiros.
ABr: Por que isso será um "crime histórico"?
Ab’Saber:Tentando conciliar esse erro estúpido, de florestas para ONGs, partiu de dentro do ministério a idéia de propor, paralelamente, o aluguel das Flonas para empresas particulares, que podem ser brasileiras ou internacionais. Isso porque existe uma cláusula que diz que as pessoas que têm a concessão podem repassar, vender para outros. É uma situação grave, por falta de inteligência. Porque as Flonas foram preservadas no passado, como possíveis áreas de exploração sustentada. Mas acontece que mudou o quadro, agora todas as áreas foram perturbadas e sobraram as Flonas. Era hora de dar o direcionamento para utilizar as Flonas como reservas de biodiversidade intocáveis. E o governo não sabe mudar o ideário, em função da necessidade de defender a Amazônia.
Uma das coisas que me deixam indignado é aquela expressão, no projeto, que diz que as florestas serão concedidas para ONGs estrangeiras. Depois tem uma frase assim, bem curtinha, "desde que seja para um gerenciamento auto-sustentado". Como se as pessoas que estão na Suíça, na França, ou em qualquer parte da Europa Ocidental, tivessem capacidade para fazer um gerenciamento auto-sustentado de uma área que eles mal conhecem. E, ao mesmo tempo, eles vão achar que as Flonas alugadas vão ser trabalhadas de modo discreto, limitado, por 30 ou 60 anos. E o mais grave é isso, se as Flonas forem parar nas mãos de organizações, instituições, empresas estrangeiras, a discussão mais tarde, se houver governos mais inteligentes no futuro, sobre a retomada de áreas que foram contratadas rapidamente nesse fim de governo do presidente Lula, não poderá ser mais discutida em instituições jurídicas nacionais, terá que ser no foro internacional. Eu acho que o povo brasileiro tem que estar consciente de tudo isso que está acontecendo.
ABr: Quais são os riscos do manejo?
Ab’Saber:Basta lembrar que cada Flona dessa pode ter 2 mil ou 2,5 mil quilômetros quadrados, e que as madeiras que estarão disponíveis para o aluguel não se encontram agrupadas na borda da floresta. Então, para poder explorar essas árvores, que têm troncos de madeira nobre, é preciso levar primeiro os mateiros, gente simples que, para ganhar uma miséria, vai até o coração dessas Florestas Nacionais, buscar o lugar onde tenha uma árvore, duas ou três. Depois dos mateiros, entram os moto-serristas, os que levam a moto-serra pela trilha e fazem o corte. Depois, tem que organizar caminhos. E, como tem árvore que está a 200 metros da borda, outra a 5 quilômetros, outras a 7 quilômetros, já imaginou o que vai acontecer com essas florestas?

Questão hídrica: necessidade de estudos e soluções mais eficazes

Geógrafo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, autor de diversas teorias e projetos inovadores na geografia brasileira, tendo recebido o Prêmio Santista e o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, oferecido pelo CNPq, o prof. Aziz Ab'Saber demonstra grande preocupação com meio ambiente.
Em abril deste ano, Ab'Saber declarou que a frase mais triste que já ouviu ao longo de sua vida foi "Mãe, nós não temos mais nada nesse mundo". A frase foi proferida por uma criança para sua mãe, cujo barraco havia desmoronado após um temporal. À época, o professor afirmou que gostaria de repetir tal frase a FHC, ACM, Covas e outros políticos no poder. "As autoridades têm que aprender a complexidade do metabolismo urbano para dar uma solução à cidade", disse. Ab'Saber referia-se a conhecimentos básicos, como quantidades de lixo e esgoto produzidas pela população.
Antes de autoridades se darem conta, Ab'Saber já afirmava que despoluir o rio Tietê é uma grande utopia. "Não adianta querer limpar o rio, pois seus afluentes, pré-poluídos, continuarão nutrindo a insalubridade", afirmou.
Como os grandes geógrafos, Ab'Saber não consegue discorrer sobre a questão hídrica de forma isolada. Tudo no meio ambiente interage, e o papel que se joga no chão hoje, pode ser a gota d'água para inundar as cidades amanhã.
Com Ciência - O Brasil pode ser considerado um país rico em mananciais?
Ab'Saber
- O Brasil, por sua extensão territorial e sua posição predominantemente entre os trópicos, com "pequena grande" área subtropical, é um dos países mais beneficiados por rios perenes do mundo. Ainda assim, há uma área de cerca de 750 mil km2 - o nordeste seco -, em que as drenagens são intermitentes. Trata-se de uma região grande, cerca de três vezes o estado de São Paulo. Observado em seu conjunto, o Brasil tem riquezas de recursos hídricos importantíssimos, atingindo seu ápice na Amazônia.
CC- A Amazônia possui reservas de água gigantescas - o suficiente para abastecer 500 milhões de pessoas durante cem anos. Que condições favorecem essa riqueza de recursos?
Ab'Saber
- As precipitações dentro do território brasileiro são suficientes para garantir a perenidade de quase 7,5 milhões de espaços territoriais, sobretudo na Amazônia, onde as chuvas anuais variam entre 1600 e 3500 mm por quase 4 milhões de km2. Há regiões mais chuvosas, como Baixo-Amazonas e noroeste da Amazônia, e menos chuvosas, como a faixa transversal que vai de Roraima até as proximidades do Araguai. Mesmo assim, não houve impecilhos para se formar a floresta contínua, devido à colaboração do clima quente e úmido.
CC - Esse fenômeno não ocorre em regiões próximas à Amazônia, como nordeste seco e Brasil central. Quais as diferenças essenciais entre o cerrado (Brasil central) e a caatinga (nordeste seco)?
Ab'Saber
- As variedades climáticas em regiões próximas apresentam características próprias. O nordeste seco apresenta drenagens intermitentes sazonais e abertas ao mar e o Brasil central caracteriza-se por clima tropical com uma estação chuvosa e outra relativamente seca, mas rios perenes - essa é a grande diferença entre os domínios dos cerrados e o das caatingas. As médias anuais de chuva no cerrado chegam a ser de duas a três vezes mais que as da caatinga. Para comparar, a região que recebe menos chuva no nordeste seco possui média pluvial anual de 268mm, sendo 850mm o máximo registrado.
CC - Como se comportam as chuvas na região tropical atlântica?
Ab'Saber
- No Brasil tropical atlântico, que começa na faixa dos climas tropicais úmidos, na região costeira do nordeste, e vai se alargando na direção da Bahia, os rios são longos e muitas vezes nascem em climas secos e passam para o úmido. A partir do sul de Minas Gerais, essa área se interioriza muito, passando pelo Estado de São Paulo e do Paraná - viabilizando o clima subtropical e úmido deste estado e encerrando-se na porção oriental de Santa Catarina. Quando chega no planalto das araucárias, continua havendo chuva suficiente para manter cursos d'água importantes e perenes.
CC - O Sr. acha que, entre outros motivos, a riqueza hídrica da Amazônia é pólo de atração de interesses estrangeiros?
Ab'Saber
- Sim. Uma das razões por que existe grande interesse em fazer o Brasil perder sua soberania sobre a Amazônia é essa. Muitos países não têm mais recursos hídricos disponíveis e, não sei porquê, acham que poderiam transportar para suas terras as águas da Amazônia - o que implicaria um custo imenso.
CC - Mas se há tanta água no Brasil, por que estamos passando por problemas tão sérios, como o racionamento de água da cidade de São Paulo?
Ab'Saber
- Não basta verificar as condições de existência de águas em função da natureza climática e da perenidade das drenagens. O problema é mais sério. Trata-se da questão da distribuição de populações urbanas, indústrias, e espaços agrícolas mais importantes, que precisam de água natural e de água para realizar pivô para irrigação em terras mais secas, tornando-as produtivas. Essa distribuição anômala faz com que falte água em muitos lugares, sobretudo nas áreas metropolitanas. A grande São Paulo, por exemplo, tem cerca de 17 milhões de habitantes, enquanto Cuba e outros países têm por volta de 3 milhões. São Paulo, então, requereu, requer e requererá tanta água, que é difícil pensar em uma solução adequada.
CC - Por que o racionamento de água foi adotado? Quais os problemas que o Centro-Sul enfrenta que levaram a essa medida emergencial?
Ab'Saber
- As águas nessa região destinam-se a quatro campos: água potável, água para fins industriais, água para serviços e limpeza pública e água para atender ao período de estiagem - entre agosto e setembro. Em função da grandiosidade espacial da região metropolitana e da exeqüibilidade de recursos locais - cabeceiras e manaciais que são diversos, mas não muito importantes -, toda a região está ameaçada. São Paulo nasceu na cabeceira do rio Tietê, mas de repente a cidade estorou e até a Cantareira corre perigo, devido à má administração e ao mal gerenciamento da serra tombada. Pessoas ricas estão subindo de Mairiporã para a Cantareira, de forma a olhar para São Paulo como se fosse um belvedere. No entanto, a única vista que terão será a da poluição. O problema hídrico deixou de ser uma questão associada apenas às taxas de precipitações, mas ao balanço entre as precipitações e a quantidade de água necessária para manter a população metropolitana, as indústrias, os serviços etc. Assim, São Paulo vai buscar água em locais cada vez mais distantes. É o caso de águas em regiões além-Cantareira, como Campinas, que já precisam capturar recursos de Minas Gerais, pois as águas disponíveis nas regiões mais próximas já foram capturadas pela Grande São Paulo. De modo geral, as capturas de água foram feitas das aguadas da Cantareira e do Alto Rio Grande e nas cabeceiras dos rios Pinheiros e Tietê. Mas isso é insuficiente para atender às necessidades da metrópole. Estamos, portanto, em um impasse: temos que buscar água além da bacia de São Paulo, mas muitos casos exigem altos custos e energia para fazer a transposição de águas de terrenos mais baixos para a cidade.
CC - O Sr. disse certa vez que despoluir o rio Tietê é uma prática inviável. Por quê?
Ab'Saber
- As águas que são fundamentais para abastecimento são poluídas devido ao crescimento urbano caótico e envolvimento de algumas áreas de represamento de água que deveriam doar água permanentemente para São Paulo e, hoje, são poluídas antes de ser tratadas. O próprio tratamento tem muitos problemas - excesso de cloro e outras substâncias, principalmente no período em que as águas começam a secar - e a qualidade do recurso cai muito. Sendo os afluentes poluídos previamente, é impossível despoluir um rio como o Tietê.
CC - A situação de emergência em relação à poluição de recursos hídricos é uma questão apenas brasileira?
Ab'Saber
- Em algumas partes do mundo a situação é até pior. Em certas cidades da Europa ocidental, os chafarizes históricos tradicionais estão soltando águas com espuma. Mas se levarmos em conta o volume de espumas que sai do Tietê a partir do alto vale do Tietê até pouco depois da cidade de Salto, tem-se um dos maiores valores de poluição hídrica do mundo. São águas fora de qualquer possibilidade de uso. Isso ocorre porque a drenagem tropical é muito densa e tem muitos córregos que estão entremeados por vida urbana, favelas e bairros carentes etc, e recebem, então, uma carga poluente que desemboca nos rios Tietê e Pinheiros.
CC - Como São Paulo deve pensar o futuro para solucionar essa questão?
Ab'Saber
- A cidade deve pensar em muitas estratégias para resolver o problema. Água subterrânea é muito pouco. Serviria para um ou outro lugar na bacia de São Paulo, oferecendo poucos metros cúbicos por segundo de água. O lençol de água subterrânea mais importante hoje é o chamado lençol Guarani, mas esse lençol começa bem para dentro da depressão periférica, dirigindo-se à bacia do Paraná, ao oeste, o que é longe de São Paulo. Talvez algum dia haja uma idéia tecnocrática de fazer perfurações no lençol Guarani para trazer água a São Paulo sem grandes gastos de energia. A situação é altamente preocupante e pede estudos permanentes e soluções com hierarquia de prioridades.